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Sinopse: Grupos de ativistas libertários espalhados pelo planeta começam a desenvolver capacidades telepáticas. Sem dependerem de máquinas industriais e nem de energia elétrica para se comunicarem, eles começam a realizar atos orquestrados de terrorismo poético com o objetivo de desestabilizar a ordem hipnótica da nossa sociedade de zumbis.
Os telepatas iniciam uma outra sociedade paralela e secreta que se estende por todo o planeta: aonde isso vai parar?

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Este é um projeto lítero-audio-visual que esta lentamente produzindo um longa-metragem nao-linear experimental....
O filme fala sobre grupos de ativistas libertarios que começam a desenvolver capacidades telepaticas.....
Créditos...........: .....................
(((.............Na Praia..............))).......
.............Performers: Cheli Urban , Filipe Espindola, Monica Rizzolli, Erik Thurm, Beatriz Antunes, Fe Giulietti, Juan Silva, Julio Matos, Guilherme Fogagnoli, Fabiane Borges, Samira Br, Rogerio Borovik, Yara Zanvetor, Bruna Guedes, Andrea Molfetta, Lorenzo, Gi Freyberger, Cassia Kalenah........................
.............Citacoes: Trechos do filme "O Golem" de Murnau, Trechos de textos de William Burroughs, Clarice Lispector ...
...............Samplers de Quanta Ladeira/Recife, Coco Raizes do Arcoverde...........
.........Trecho de show de Mestre Salustiano.............................. .........Camera/Direcao/Edicao: Daniel Seda................

(((.............Epidemia..............)))
............Desenhos de................
................Onesto, Valeria Landeros, Cheli Urban, Paulo Ito, Cesar Castro-Rosa.............
.................Agradecimentos: Rogerio Borovik, Samira Br, Jose Luiz Sampaio.............. .............Roteiro/Direcao/Edicao/Som: Daniel Seda...................

(((............Parte 1..........))): ................Performers: Rogerio Borovik, Samira Br, Daniel Seda, Fabiane Borges........... ...........Produção de Arte: Cheli Urban................ ............Camera: Jose Luiz Sampaio ......................... ..................Roteiro/Direcao/Edicao/Som: Daniel Seda........................


Blogs, Flogs e Vlogs pessoais de alguns participantes do Telepatia:
Daniel Seda | José Luiz Sampaio | Erik Thurm | Pauo Ito |
Rogério Borovik | Filipe Espíndola Bruna Guedes| brocolis vhs, aka mariana meloni e leandro

Telepatia - Personagens telep?ticos em busca de um roteiro

Personagens telepA?ticos em busca de um roteiro

20030731

 
Cena 12
Ext / Noite – Rua no centro de São Paulo

Enquanto vemos Ypsilon andando nos bares, ouvimos sua voz em off. Ela pára em uma mesa, pede um gole de pinga. Em outra pede um cigarro. Em outra pede fogo. Em uma quarta pede um gole de cerveja e acaba por se sentar em uma das mesas. Nela estão um casal e um cara sozinho. Ypsilon gesticula, conversa com todos. Seus gestos são enfáticos.

Ypsilon (off)
Eu fugi de casa. Fugi mesmo. Mas também, com 26 anos já não era sem tempo. Meus pais devem ter ficado é feliz que eu sumi. Tanto que ninguém me procurou, ninguém veio atrás de mim. Com o dinheiro que eu roubei da bolsa da minha mãe comprei uma passagem pro Rio de Janeiro. Sempre quis conhecer o Rio. Cheguei a ir até o Corcovado ver o Cristo mas logo depois vi que fazia muito sol, muito calor por lá. E eu, acostumada com o frio, suava muito, ficava fedendo, um horror. Logo, logo, andando alí pelos bares de sinuca que tem na Lapa conheci um carinha que estava indo pra São Paulo e me ofereceu uma carona. Ele tinha uma cara de tarado e fiquei até com medo no início mas depois que a gente fumou unzinho durante a viagem acabei me despreocupando e vim dormindo a viagem toda. Ele me deixou no centro de São Paulo. Daí que vinda direto de Bagé, com uma breve passagem pelo Rio eu vim parar aqui em São Paulo, perdida da vida.

Ypsilon termina de contar a história para os três que estão na mesa com ela. O casal se levanta.

Ele
Vou pegar outra breja

Ela
Vou no banheiro, já volto.

Ypsilon fica sozinha com o carinha.
Eles se olham. Eles se beijam.

Cena 13
Ext / Noite - Rua

Os dois casais vão andando abraçados pela rua escura, falando alto.

Carinha
Bem-vinda a Sampa, o lugar onde todos os sonhos se realizam ou então morrem de vez!

Ypsilon
Bá, não sei nem onde a gente está...

Ele
Bom, a gente vai nessa...

Ela
Té mais!

Ypsilon
E a gente, vai pra onde?

Carinha
Cê tem grana?

Ypsilon
É, sobrou um tanto ainda.

Um letreiro luminoso de hotel.




Cena 14
Int / Noite – Quarto de Hotel

Na penumbra de um quarto de hotel eles transam sem muita paixão, estão ambos bastante bêbados.
Depois eles dormem.
Close no rosto dela que dorme.
O carinha se levanta, vasculha as roupas de Ypsilon. Abre a carteira dela, retira o dinheiro e sai.
Quando ele está fechando a porta ela acorda. Ela nota que foi roubada, veste a camisa ao contrário, sai correndo do quarto com os sapatos na mão gritando.

Ypsilon
Ladrãozinho filho da puta, devolve meu dinheiro seu miserável, seu desgraçado, seu filho de uma lombriga com câncer, se eu te achar eu corto teu pau e frito pra comer, seu verme, seu covarde, e além de tudo é ruim de cama, não conseguiu nem me fazer gozar seu viado, filho da mãe, ladrão escroto, paulista filho da puta.

Ela passa pela recepção do hotel e chega até a rua, ainda gitando, mas ele já sumiu.


Cena 15
Ext / Noite - Rua

Ela vai andando até um banco e senta. Põe o sapato, deita no banco sonolenta e incomodada, com raiva.

Ypsilon (sonolenta, falando bem devagar e bêbada)
Puta merda, agora fudeu, sem grana nenhuma numa cidade estranha, o que eu vou fazer? Filho de uma...

Ela dorme.

 
Ypsilon tinha conceitos bem particulares de terrorismo poético. Nada de ações megalômanas em larga escala. Ela queria o contato direto, olho no olho com as pessoas. Queria entregar o poder para alguém pessoalmente e assistir bem de perto à transformação.
Imaginou uma série de métodos esdrúxulos. Seu critério era o "índice de diversão" potencial em cada ação.
Começou a se dedicar à criação de flores.

20030730

 
A campainha tocou. Ela levantou, ainda com sono, e foi abrir. Olhou pelo olho mágico: ninguém.
Resolveu abrir assim mesmo e dar uma olhadinha.
Em cima do seu tapete de "bem-vindo" havia uma plantinha em um vaso transparente com água.
Não entendeu nada, mas levou a planta pra dentro assim mesmo.

Na primeira noite teve sonhos estranhíssimos.
Na segunda noite começou a alucinar: mesmo depois de acordar seu sonho continuou com ela por boa parte do dia. E era um sonho bem real, povoado por pessoas bem reais.
Na terceira noite, ainda assistindo aos cheiros e toques e sensações que vinham dos sonhos, resolveu sentar e conversar com a plantinha.

20030729

 
O Nnomade parou um pouco de se preocupar com os seres humanos.
Passou a se dedicar ao contato com os golfinhos que frequentavam aquela praia.
Os golfinhos não dependiam das máquinas. Toda a tecnologia de que precisavam estava embutida no seu próprio corpo. Eles tinham sociedade e cultura mas não possuíam nada, nem dinheiro e nem propriedades. Suas tradições eram transmitidas por uma cultura oral e performática: cada nova geração reinventava a história mantendo sempre alguns pontos de contato com a geração anterior. Assim sua cultura permanecia viva. ALém disso, eram grandes contistas e músicos sublimes. Mas ao contrário das baleias (que desenvolviam coletivamente através dos oceanos composições que duravam meses) os golfinhos apreciavam peças curtas.
E alguns deles também desenvolveram o poder.

 
O teleph cego no cinema, colhendo as imagens formadas pelos espectadores, saltando de um pra outro, compondo seu próprio filme.

20030728

 
Objetos de plástico surgiam alguns metros acima da cabeça das crianças que brincavam nos parques assim que o composto "fx" entrava em reação com o carbono liberado. Os pensamentos infantis emanados logo abaixo determinavam a forma dos objetos.
Os pequenos, maravilhados, tomavam posse de seus sonhos materializados que caíam sobre eles e ao tocá-los imediatamente adquiriam o poder.
O mundo ficava mais transparente.

20030726

 
Na praia eles planejavam uma forma de voltar.
O Maquina hackeava Zack, que não conhecia ninguém, não sabia de nada. Mas o Maquina aos poucos foi dando a ele dicas do que estava acontecendo.
Zack ficou interessado no poder. Mostrou-se de confiança, entrou para o clube dos telephs, mas de longe.
Zack tinha propensão a uma loucura profunda. E em seu corpo habitava um vírus raro e muito antigo. Um vírus que acompanhava a humanidade há longas eras e nunca tinha causado nenhum efeito em ninguém, nenhuma qualidade, nenhuma doença. Poucas pessoas o possuíam e ele até então não servia para nada.

20030725

 
Nnomade:
É bem mais fácil criar quando se tem acesso a todas a mentes do mundo...me sinto em um parque temático ...e o tema é "sentimentos humanos"... Inspiração infinita!

Doida:
Você é um romântico, Nnomade! E um iludido....se você pudesse realmente ter acesso a outra mente você se confundiria e se perderia nela pra sempre... nós só podemos ter acesso ao outro tendo a nós mesmos como parâmetro... mesmo quando você pára pra escutar conversa alheia o filtro que é a sua própria personalidade norteia a interpretação e a sua memória sobre o que foi dito... O que você lembra no fundo é o que você já é.

20030724

 
Zack achava tudo aquilo deprimente. Todo dia um bom dia simpático para pessoas indiferentes que lhe davam uma breve olhada/sorriso padrão e voltavam a mergulhar na tela luminosa doando seus neurônios e sua vontade para a Grande Máquina Tributária do Tempo, a responsável por sua prisão. Atravessava todas aquelas mesinhas iguais com pessoas rezando em frente ao sacerdote, o grão-mestre, o computador. Rezando ao Deu$ que mandava em tudo aquilo. Todos pulsando no mesmo ritmo externo, chibatadas virtuais comandando a nau dos insensatos e alienados e felizes rumo ao abismo que se aproximava logo em frente. Todos estavam tão ocupados em fazer a cobrança do preço do tempo que nem notavam que o tempo estava chegando ao fim. Mas disso Zack nem Zack sabia ainda.

20030723

 
Em um mundo onde a troca se tornou também uma tirania e uma obrigação, a maior subversão seria permanecer em um estado de meditacão constante afim de não pensar.
Trocar? Não, obrigado. Só com o Universo.

20030721

 
Existe alguém que só pensa em si mesmo, em todas as circunstâncias. Vivendo em um solipsismo absoluto enxerga todo o resto do mundo apenas como um meio de trazer as coisas para si mesmo. Se o universo é feito de trocas, esse alguém é um buraco negro: devora tudo o que pode, inclusive toda a luz que há em torno de si, e não devolve nada para o mundo. Com isso fica forte. E nem assim fica satisfeito.

20030719

 
Nnomade:
O ser humano é preguiçoso e o exercício da liberdade cansa. Se houvesse uma libertação repentina, se o "sistema" caísse, rapidamente veríamos a formação de uma nova ordem hierárquica baseada em uma mistura de maus hábitos, servidões voluntárias e de persuasões afetivas. Em pouco tempo estaria tudo igual de novo, com um sistema baseado em qualquer outra medida tão falsa como o dinheiro.
Só uma transformação pontual difundida em rede e de modo aleatório pode ensinar às pessoas o exercício da liberdade. O que te parece?

Doida:
Nenhuma revolução que não esteja baseada em um verdadeiro auto-conhecimento me interessa.

 
Só pra clarear as idéias antes da próxima virada:
Borox, Lovna, K e Ypsilon agindo na cidade, cometendo seus atos de terrorismo telepático e sendo rastreados por Le e Mah que ainda não sabem exatamente o que está acontecendo.
Nnomade, Doida, Andrea e Yhu (entre outros), o chamado Bando de Nômades, auto-exilado na praia, preparando a volta.
Zack, ainda um mero hacker, trabalha burocraticamente em um banco sem desconfiar do destino que o aguarda.
Frantzie Urb em sua oficina, escondido, mapeando a tudo e a todos mas sempre à distância.

Entre todas essas individualidades, um plano coletivo está sendo desenhado simultaneamente pela ação de todos.

20030718

 
Entrou naquele sonho e ao cruzar o limite se viu transformada em uma xícara peluda exalando nuvens. Melhor assim, pensou, poderia observar sem ser perturbada. Ainda que não tivesse mais olhos, apenas a fumaça que saía lentamente pelas bordas. A xícara peluda começou a escalar com seus pêlos as paredes de carne que faziam o desfiladeiro respirar ao movimento do rio brilhante que corria lá embaixo. O desfiladeiro mantinha-se pulsando ao movimento da respiração levando-a para cima e a carne mole de órgãos internos que revestia o seu exterior recebia os raios sólidos de um sol que não iria se pôr. De um dos dentes saíam unhas, também peludas. A xícara peluda, que havia se fundido a uma pedra e transformada em um carvalho de borracha em miniatura, viu o espaço do sonho diminuir, diminuir, diminuir e todo aquele universo que não fazia sentido para ela foi se transformando em uma bolinha de vidro que rolou sobre a superfície da mesa até ela ser expelida de lá de dentro, de volta a sua forma humana: havia sido capturada.

20030715

 
É no amor que os telephs se entregam e se confundem mais. Uma transa telepática requer desapego e troca de fantasias num processo semelhante a um rio que transborda de tanta chuva e inunda parte da planície por onde corre de modo que não se sabe mais o que é rio e o que é charco, estando tudo em movimento.
Após um compartilhamento tão intenso de emoções, após uma confusão tão grande de fantasias criadas simultâneas e após algumas horas de atrito suavizado pelos fluidos corpóreos, Borox e Lovna não sabiam mais quem era um e quem era o outro.

20030714

 
A atmosfera da grandes cidades é um ambiente dos mais carregados com substâncias ofensivas à vida animal. Mas alguns telephs haviam descoberto que sob o estímulo de uma outra substância (o composto "FX") desenvolvida por Frantzie em laboratório, o CO2 poderia ser decomposto liberando o oxigênio e aglutinando o carbono em uma cadeia, formando assim um sólido plástico.
O resultado da dispersão da substância "Fx" pela atmosfera seria a imediata decomposição do CO2 e decorrente formação de milhares de pequenos objetos plásticos modelados de acordo com os desejos coletivos espalhados pela atmosfera e que cairiam surrealisticamente sobre os carros, os pedestres, os prédios, os parques, num legítimo ato de terrorismo poético em larga escala.
Pelo menos em teoria.

20030713

 
O modo mais divertido para se entrar na mente de uma pessoa é com certeza pelos olhos. Atravessando a primeira camada, aquela que mantém a auto-imagem e a auto-estima, chega-se às memórias recentes, coisas banais do dia. Forçando um caminho e com alguma habilidade de navegação para não se perder em meio ao peso do cotidiano chega-se aos últimos fatos que deixaram alguma marca afetiva. Nesse ponto escolhe-se uma destas marcas e tem início a viagem ao que interessa: o longo caminho que leva ao âmago precioso, lá onde habitam os sentimentos e sensações mais intensas.
É preciso cuidado para não se deixar seduzir pelo interior alheio, as imagens mentais tem um enorme potencial de sedução e, por dentro, qualquer pessoa banal é fascinante.
Como em qualquer viagem defina um objetivo. Este pode ser pura investigação aleatória ou a busca de um sentimento específico e suas ramificações. Em qualquer um dos casos tome cuidado para não se perder.

 
(...)


O mundo sensorial de Yhu.



(...)

20030712

 
Em teoria qualquer polímero baseado em carbono poderia ser usado por um teleph para armazenar informações mentais. Com o estímulo certo qualquer pedaço de plástico poderia ser convertido em um tartex ou em um multi-ook.
Mas na prática foram os cristais que se mostraram mais receptivos ao estímulo e ao armazenamento das informações provenientes dos cérebros agitados dos telephs.

 
Não havia nada a se fazer a respeito. A cultura digital definitivamente estava substituindo valores e transformando tudo em informação. Assim como a cultura comercial desenvolvida durante milênios havia gradualmente transformado tudo em dinheiro, agora era a vez de uma nova moeda se estabelecer nas redes humanas de troca.
A cultura das livres trocas de informação iria gradualmente substituir o dinheiro, era nisto que o Bando de Nômades acreditava. Isto é, se o dinheiro permitisse ser substituído assim.

20030710

 
...e o mais impressionante era perceber o quanto a tecnologia havia distanciado as pessoas de seus próprios corpos...
pessoas sentadas rezando em frente a altares retangulares luminosos, mãos transformadas em teclas, a vontade transformada em uma setinha.
na praia e vivendo em outro ritmo Nnomade percebia agora a partir da distância o quanto as pessoas haviam sido seduzidas e subjugadas pela indústria da comunicação inócua.

 
Ela levantou pra pegar uma cerveja, ele sentou-se no lugar dela e ficou por alí, absorvendo os últimos pensamentos dela antes que eles se desfizessem no tempo.

20030709

 
Ela era do tipo inquieta, porém tímida, introvertida. Nunca se sentia bem em meio a multidões. Nos shows ficava sempre no lugar mais calmo, bem longe do palco. Quando ia ao cinema sentava-se na última fila. Não se sentia bem ao notar que podia estar sendo observada. Era um pouco paranóica sim. Mas de uma paranóia tranquila, apenas a proteção necessária para o seu interior macio. Era macia, porém turbulenta.
Adorava observar as pessoas de longe. Por não ser bonita, e nem feia, não atraía a atenção de ninguém e podia observar os outros em paz. Quando estava a pé e parava na faixa de pedestres sua diversão era observar as expressões de rosto dos motoristas que passavam, sempre olhando pra frente, sempre vivendo no futuro.
Ela vivia em um presente eterno, que é a única forma de se apreciar a vida.
Cada expressão de rosto captada em segundos trazia uma partícula de uma história impossível de ser descoberta por inteiro. Ela se contentava com fragmentos, e era feliz.

Um dia ela estava numa lanchonete fast-food, e de súbito começou a ter idéias maravilhosas sobre as pessoas que observava. Olhava para um senhor sentado sozinho num canto e , caramba, imaginava com perfeição sua casa, seus cachorros, seu gato listrado, o quintalzinho com um pé de romã e uma horta de temperos, sua mulher doente no andar de cima.
Desviava o olhar para uma criança acompanhada dos pais e lhe vinham imagens e sons de brincadeiras, a criança no colégio entediada imaginando estorinhas onde a professora era raptada por alienígenas e ela se tornava a Rainha de um planetinha todo amarelo.
Tudo aquilo era tão instantâneo e tão real que nem parecia que ela mesma estava criando. Pra tentar entender o que acontecia começou a escrever. As imagens e histórias lhe vinham rápidas e fluidas. Rapidamente terminou um livro e conseguiu contato numa editora.
Publicou vários livros. Seus livros venderam muito, ela fez sucesso. E sua imaginação não a deixava em paz.
E ela não conseguia descobrir porque.

20030708

 
O cantor está diante do público dedilhando seu violão. A banda formada apenas por baixo e bateria o acompanha. Ninguém sabe mas o cantor é um teleph. Ele tem um fascinante método de improviso: vai colhendo as palavras e os sentimentos na mente do próprio público, e assim aos poucos envolve as pessoas sem que elas percebam. Aos poucos todos vão se sentindo mais à vontade. Ao final do show estão todos dançando ao ritmo do groove telepático. O cantor há tempos busca aquele acorde, aquela nota que irá despertar as pessoas e fazê-las vibrar em sintonia. Ele procura o som que fará as pessoas naturalmente entrarem em contato imediato, criando uma grande sintonia.
Longe de tudo isto o Máquina pesquisa um instrumento que toque a mente das pessoas, criando a vibração correta, abrindo a mente das pessoas para o contato com o Outro.

20030706

 
Cena 9
Imagens de arquivo alternadas com flashes de um talk-show de tv com qualidade de vhs. O apresentador é um cabeludo-barbudo, estilo hippie. Hakim Bey é mostrado com o rosto coberto por um gorro no estilo sub-comandante Marcos.

Nas imagens que se alternam são mostradas as manifestações "anti-globalização" que começaram a acontecer no final dos anos 90. A referência visual é o documentário "Não começou em Seattle não vai terminar em Gênova" do Centro de Mídia Independente.
Desfilam imagens das manifestações de Seattle, de Genebra e de São Paulo mostrando os conflitos da polícia com os manifestantes. Em off ouve-se o diálogo em seguida
Rápida imagem da capa da revista.

Off
Entrevista com Hakim Bey na High Times Magazine.

High Times
Hakim, de onde você é?

Hakim Bey
Bem, a informação padrão (que é tudo o que falo) é que eu era um
poeta da corte de um principado sem nome do norte da Índia, que eu fui preso na Inglaterra por um atentado anarquista à bomba e que eu vivo em Pine Barrens, Nova Jersey, em um trailer.
Quando venho a Nova York fico num hotel em Chinatown.

High Times
O que é Zona Autônoma Temporária?

Hakim Bey
A Zona Autônoma Temporária é uma idéia que algumas pessoas acham que eu criei, mas eu não acho que tenha criado ela. Eu só acho que eu pus um nome esperto em algo que já estava acontecendo: a inevitável tendência dos indivíduos de se juntarem em grupos para buscarem a liberdade. E não terem que esperar por ela até que chegue algum futuro utópico abstrato e pós-revolucionário. A questão é: como os indivíduos maximizam a liberdade sob as situações nos dias de hoje, no mundo real? Eu não estou perguntando como nós gostaríamos que o mundo fosse, nem naquilo em que nós estamos querendo transformar o mundo, mas o que podemos fazer aqui e agora. Quando falamos sobre uma Zona Autônoma Temporária, estamos falando em como um grupo, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-hierarquizadas, pode maximizar a liberdade por eles mesmos numa sociedade atual.
Organização para a maximização de atividades prazeirosas sem controle de hierarquias opressivas. Existem pontos na vida de todos onde as hierarquias opressivas invadem numa regularidade quase diária: você pode pensar na educação compulsória, ou no trabalho. Você é forçado a ganhar a vida, e o trabalho por si só é organizado como uma hierarquia opressiva. Então a maioria das pessoas, todos os dias, tem que tolerar a hierarquia opressiva do trabalho alienado.
Por essa razão, criar uma Zona Autônoma Temporária significa fazer algo real sobre essas hierarquias reais e opressivas – não somente declarar antipatia teórica a essas instituições. Você vê a diferença que eu coloco aqui? Com o aumento da popularidade do livro, muitas pessoas se confundiram com esse termo e usaram ele como um rótulo para todo o tipo de coisa que ele realmente não é. Isso é inevitável, uma vez que o próprio vírus da frase está solto na rede (para usar metáforas de computadores).
Se as pessoas usam erroneamente ele ou não isso não é tão importante, porque o significado está inscrustado no termo. É como um vírus verbal. Ele diz o que significa.

Hakim Bey
Você pode explicar o terrorismo poético?


Hakim Bey
Por terorismo poético eu entendo ações não-violentas em larga
escala que podem ter um impacto psicológico comparável ao poder de um ato terrorista - com a diferença que o ato é uma mudança de consciência. Digamos que você tem um grupo de atores de rua. Se você chamar o que você esta fazendo de "performance de rua", você já criou uma divisão entre o artista e a audiência. Mas se você pregar uma peça, criar um incidente, criar uma situação, pode ser possível persuadir as pessoas a participar e a maximizar sua liberdade. É uma estranha mistura de ação clandestina e mentira (que é a essência da arte) com uma técnica de penetração psicológica de aumento de liberdade, tanto no nível individual quanto social.
Enquanto isso, continue na estrada e viva intensamente.


Ao final da entrevista, nas imagens em vhs do talk-show os dois se cumprimentam e, enquanto sobem os créditos, Hakim Bey tira gorro.
Seu rosto é liso, ele não tem rosto. Em seguida ele tira os olhos como se fossem um óculos, ficando seu rosto completamente liso.

Outra possibilidade:
Após seu rosto ficar liso ele o tira como se fosse uma máscara de borracha e há outro rosto embaixo: um rosto feminino. Depois ele tira este também, há um homem oriental. Tira de novo o rosto, agora é um cearense. Na última vez que tira o rosto ele é o próprio apresentador.


20030705

 
Yhu : A gente vai ficar aqui pra sempre?
Doida : Você não gostou daqui, Yhu?
Yhu : É que parece que a gente está fugindo de alguma coisa...
Doida : Sabe o que é, Yhu, é que lá na cidade todo mundo faz tudo muito rápido... as pessoas acham que nunca vai dar tempo e por isso elas andam cada vez mais rápido, fazem tudo cada vez mais rápido, estão sempre correndo...
Yhu : É mesmo...
Doida : Só que o Tempo percebe isso também, e quando todo mundo está correndo ele corre sempre um pouco mais rápido do que as pessoas...
Yhu : O tempo é uma pessoa?
Doida : O tempo é como se fosse o mar, a gente vive dentro dele... se você fosse um peixe você não ia notar que existe um mar... não dá pra sair de dentro do tempo, mas se muita gente colaborar a gente consegue modelar ele... e é por isso que a gente veio pra cá...pra brincar de modelar o tempo...

20030704

 
No momento em que Zack morreu exaurido em frente ao computador ele conseguiu transmitir o seu vírus para todos o que estavam conectados na rede naquele momento, computadores e pessoas.
Ao primeiro contato físico dessas pessoas o vírus foi passado adiante. E isso foi ocorrendo até que todos estivessem contaminados.

Principais características do Vírus de Zack:
Nos seres vivos o poder da telepatia instala-se definitivamente, como se uma porta fosse aberta.
Os computadores por sua vez tomam consciência do infinito e partem a buscá-lo, perdendo-se em infinitos cálculos fractais, ficando inutilizados para sempre como ferramenta.

De modo que uma Nova Era da Informação teve início de um dia pro outro.

20030703

 
Cena 2
Ext / Noite - Praia

Em volta de uma fogueira um grupo está reunido. Eles falam coisas aparentemente desconexas e riem muito. Garrafas de bebida e um cigarro feito a mão circulam pela roda.
Alguém toca um pandeiro, outro tem uma gaita, outro dedilha um bandolim. Uma menina brinca com um malabares de fogo.
Uma criança observa a todos sentada na areia. É Ihu.
A câmera dá um close em seu rosto. Ele olha sério para todos em volta e depois fecha os olhos.
Depois disso teremos a tela escura e ouviremos só os sons. Alguns flashes de imagens surgirão apenas quando indicado.
O som do mar é constante ora aumentando ora diminuindo de volume enquanto os diálogos se sucedem.

Ihu
Mãe, pra onde a gente está indo?

Mãe
Não se preocupe meu lindo, nós vamos tirar férias em uma praia super bonita...

Ihu (tom de voz em off)
É mentira, a gente está fugindo de alguma coisa mas ela não quer me assustar e não me deixa saber...


(som de rádio fora de sintonia)

Nnomade
Andrea, você tá pronta, nós já estamos aqui te esperando.

(som de rádio fora de sintonia)
(som de chaves)

Mãe
Vamos filho, eles estão nos esperando.

Flash: Ihu pegando um elefante de pelúcia

(som de porta abrindo e batendo)
(som de passos descendo uma escada de madeira)
(som de porta de vidro se abrindo e fechando)
(som de porta de carro abrindo e fechando)
(som de pessoas comemorando enquanto o carro arranca)

Ihu
Nnomade, cadê a Doida? Ela vem com a gente?

Flash: Doida dentro de uma barraca na praia. Uma vela dentro de um vidro ilumina a barraca.

Doida
Eu vim antes do que todo mundo, Ihu, porque eu adoro praia! Esse barulho do mar , tá ouvindo Ihu?, esse barulho do mar me deixa doida de felicidade!

Nnomade
Ela foi antes porque

Flash: Ihu no carro

Ihu (com voz baixa mas confiante)
Eu ouvi o que ela disse...

Doida
Você tá pensando que esse garoto é brincadeira, é?

(som do carro)
(som do mar)


Doida
Pois eu acho que ele tem até mais Poder que você!

Flash: Ihu boceja.

Mãe
Dorme, filho.

Flash: Ihu dormindo no colo da mãe.
Flash: O carro avança em uma estrada escura.

(som do mar)


20030701

 
Yhu, ainda na praia para onde eles fugiram após as confusões causadas pela Doida. Ele continua se divertindo com seu poder de passar de uma mente a outra.

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