se acaso alguém consegue juntar estas energias com uma idéia forte o bastante está formado um coletivo
quando alguém importante para uma comunidade morre fica uma energia solta no ar vinda de todos que o conheceram e com a outra ponta solta no ar, energia múltipla e espalhada em suspensão
essas identidades coletivas são muletas para os paralíticos, escudos para os ansiosos, divãs para os preguiçosos, recreio para os irresponsáveis, mas também albergue para os náufragos, o seio da família para os órfãos a meta gloriosa e ardentemente desejada para os que se extraviaram e se decepcionaram, a terra prometida para os peregrinos extenuados, o rebanho e o cercado seguro para as ovelhas desgarradas e a mãe que significa nutrição e crescimento.
(carl gustav jung - memórias sonhos reflexões)
O fato de pertencer a uma organização coletiva é tão importante na nossa época que tem mesmo o direito de parecer como meta definitiva, enquanto que toda tentativa de sugerir ao homem um passo a mais no caminho da autonomia pessoal é considerada como presunção, desafio prometeico, fantasia ou mesmo impossibilidade
(carl gustav jung - memórias sonhos reflexões)
as circunstâncias me forçam a fazer isso mas terei que apagar você (e isso aconteceu de fato, sem reação possível)
parei pra escutar e só ouvi revolta de todos os lados, pessoas revoltadas e injustiçadas e incapazes de reagir. muito falatório e pouca ação. quem age, por sua vez, continua dominando
algumas pessoas não aceitaram o fim da escravidão financeira. o peso da liberdade é imenso e se você não sabe quem é não vai saber o que fazer. algumas pessoas preferiam desesperadamente a submissão à qualquer regra, doutrina, religião ou personalidade magnética. preferiam a triste submissão a alguém que dissesse de modo indiscutível o sentido das coisas. algumas pessoas nunca chegaram a descobrir que o sentido oculto das coisas é percebido por qualquer um que esteja fluindo junto consigo mesmo. todos livres e fluindo ao mesmo tempo faziam do mundo não uma confusão mas um grande mar de ondas sincrônicas.
a vida era um sopro de ar vindo de um exterior quente e úmido. a vida era um ritmo pulsando na sua pequenina percepção restrita ainda a algumas centenas de células crescendo no ritmo da respiração.
o funil perceptivo gerado pelo poder trazia de muito longe notícias e tensões que podiam ainda ser ignoradas. o pequeno e aconchegante interior quente era a sua casa, o seu refúgio, a sua própria vida.
As duas conversavam, amigas.
Na cozinha semi-aberta o vento remexia os cabelos curtos de Lovna e desalinhava os longos cabelos negros de Lay. Juntas elas compartilhavam aquele momento de intimidade. Duas amigas conversando enquanto ainda brotavam e se multiplicavam dentro delas dois novos
telephs, uma nova geração. Eles apenas começavam seu longo processo de formação mas já estavam embebidos pelo poder que herdaram antes mesmo de nascer. Sentiam toda a agitação do mundo e se refugiavam de tudo no interior da carne quente e segura.
A dra. Lovna acompanhava de perto a criação de vida de que seu corpo era capaz. Mantinha longas conversas com seu pequeno amontoadinho de células que só sabia crescer, e respirar, o tempo todo sem descanso.
A filha de Lay ainda com sete meses já tinha consciência e compartilhava da conversa oferecendo às duas um monte de dúvidas sobre sua futura vida e uma certeza: ia ser bom nascer.